Opinião

Dores do exílio (II)

Por Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Após enterrar a imperatriz na igreja de São Vicente de Fora, acompanhado pela princesa Isabel, pelo conde d´Eu e dos netos Pedro, príncipe do Grão Pará, Luís e Antônio, dom Pedro viaja para Cannes, depois Baden-Baden e Vichy, em busca de melhoras para a saúde minada pela diabetes. Apesar da vida modesta, surgem as dificuldades econômicas e dois empréstimos são tomados junto ao capitalista lusitano visconde de Alves Machado, que outrora fizera fortuna no Brasil. Outra decepção do velho imperador é o completo esquecimento em que o deixam quase todos quantos o haviam cortejado nos bons tempos da monarquia e que agora se atropelam no Rio de Janeiro, nas antecâmaras do Governo Provisório. "É singular", observa dom Pedro, "não recebi uma só carta ou uma única folha do Brasil!" E adita:

"Esqueceram-se de mim mais depressa do que eu poderia esperar. Por que não me escrevem? Há pessoas cujas cartas me dariam tanto prazer! Receiam comprometer-se, incorrer em punição ..."
Tentando explicar o inexplicável, dom Pedro se manifesta: "O novo regime brasileiro surgiu revestido de aparato, apoiado na força pública, rico em recursos que lhe deixamos, fértil em esperanças e valiosas promessas. O modo inopinado como a mudança que ocorreu feriu as imaginações, atribuindo-lhe foros maravilhosos. Daí o magnetismo que exerce, perfeitamente explicável." E conclui, como o mais sábio dos filósofos: "Não condenamos a quem quer que seja;

lamentamos apenas a ilusão em que se acham; meditamos sobre a contingência das situações humanas. Virá em seguida o arrependimento. Se a monarquia retornar, de adesões não há de sentir falta, e igualmente espontâneas, com idêntico entusiasmo e verdade".

Aos bocados, apertam-lhe as amarguras do exílio. Mas a resignação imperial é a mesma. Conserva a atitude hierática e serena de sempre. Não se lhe muda o caráter; guarda aquela altiva nobreza que sempre o caracterizou e que é senão o reflexo da probidade de seu espírito. Jamais se lhe ouve uma queixa; jamais uma crítica severa. Com uma ponta de ironia, dom Pedro alude, embora de leve, às acusações de absolutismo que se lhe faziam outrora. "Vivo", diz, "uma absoluta ociosidade, exercendo genuíno poder pessoal para realizar tudo quanto me apraz". Mas a possibilidade de voltar ao Brasil não o abandona nunca. "Se me chamarem, estou pronto! Sigo no mesmo instante e contente, visto poder ser útil ainda à minha terra. Mas se me chamarem espontaneamente, notem! Puseram-me para fora... Retornarei se se convencerem de que me cumpre retornar".

"Sessenta e cinco anos e exilado/ Só a pátria posso ver no meu amor", canta a lira, em dois de dezembro de 1890, que pela segunda vez comemora, no exílio, o aniversário do nascimento de dom Pedro II.

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